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O nome de Maria da Rocha pode não ser familiar aos melómanos do jazz e da música improvisada em Portugal, e isso porque esta violinista e violetista de Lisboa tem trabalhado, sobretudo, nos circuitos de Berlim e Estocolmo e grande parte da sua dedicação vá para a interpretação dos grandes autores das músicas contemporânea, clássica e barroca. Nos seus próprios projectos são, no entanto, os processos e a estética da improvisação que abraça, tendo sido nesse âmbito que no final do ano passado a ouvimos no Creative Fest. Um disco a solo, “Bet Rot”, está para surgir à luz do dia, mas enquanto tal não acontece o seu cartão-de-visita é este “Pink”, em duo com a electronicista sueca Maria W. Horn apropriadamente chamado M2.

De cariz experimental, a música proposta tem um carácter intimista que só não condiz com as coordenadas do reducionismo improvisacional e da corrente lowercase da electrónica e da electroacústica porque cada tema é feito de muitas camadas e pormenores, regra geral surgindo em simultâneo e convidando a várias audições para que possamos apreender na totalidade os elementos que se congregam ou dispersam. Texturais e com foco no jogo de timbres, as 10 peças reunidas não seguem nenhum padrão definido: podem entrar pelos territórios do “drone” como serem pontilhísticas, numa abordagem suave do noise. Noise? Sim: a organização e o tratamento dos sons desafiam tanto as convenções da beleza musical como da criatividade dita “feminina”, com arcadas algo agrestes por parte de da Rocha e envolvimentos ou interacções digitais que preferem a dissonância e a atonalidade. Muito, muito interessante. Rui Eduardo Paes (Jazz.pt)